sábado, 9 de fevereiro de 2008

Escolher na consciência

The unexpected answer, René Magritte
[Fonte: profile.myspace.com]

Morreu uma mulher grávida na minha rua. Foi atropelada.
Descobri pouco depois que era toxicodependente e que roubava.
Alguém disse, entre a multidão, que era muito boa filha e que cuidava de uma mãe inválida desde os 20 anos.
Vim a saber que estava grávida de apenas 3 semanas.
O passado criminoso desta mulher era conhecido pela polícia há já muito tempo e havia assaltado e agredido idosas. Era negra.
Levava o filho mais velho todos os dias à escola.
Espancava o filho mais novo, tendo este estado internado 2 meses.

Sentem piedade? Sentem raiva?
Acham que “foi bem feita”?
E se vos disser que se suicidou? Que estava cansada da vida que levava?
Não sei se estas informações ajudam a diluir o efeito da morte, do desaparecimento, da história contada por mim, por cada um de nós sobre os outros.

Ando a ler o fantástico livro “Blink”, de Malcolm Gladwell há já várias semanas e é inquietante a forma como tomamos decisões por pormenores, fazendo fé nas impressões que o nosso cérebro recebe nas pequenas coisas, sem que tenhamos muitas vezes consciência desse processo. Gladwell chama-lhe “slice of life”, fatiar fino segundo nota do tradutor.
Esta reflexão sobre a mulher grávida, naturalmente inventada, é fruto da forma como todos nos avaliamos no dia a dia, comentamos os nossos parceiros, colegas ou amigos. Muitas vezes até a nossa cara-metade não escapa a esta incidência.
Poderia escrever sobre a avaliação do bem e do mal e das consequências dos nossos actos e comportamentos mas…ainda ando com a mente às voltas depois de ver o “Atonement”. Aconselho vivamente.
Há sempre um momento em que escolhemos.

Há escolhas que mudam a nossa vida mas...temos de ter consciência disso?